sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Adeus Porto Velho


Durou cerca de 3 meses e meio minha experiência aqui em Porto Velho. Fiz parte da comunidade salesiana que agora mora no Centro Salesiano do Menor. Ajudei em algumas atividades do centro, auxiliei na paróquia e também acompanhei algumas atividades do colégio dom bosco. Sem dúvida foi uma experiência muito boa, intensa e que me proporcionou uma boa visão do trabalho educativo-evangelizador que realizamos. Fiz novas amizades, descobri lugares e creio que cresci como padre. Agora vou a Manaus trabalhar no pós-noviciado em 2011 viajo no próximo dia 20 de dezembro. Agradeço a Deus esta experiência em Porto Velho sobretudo as pessoas que conheci, os corações que me aproximei e a graça de ter encontrado aqui tantos jovens que novamente aqueceram a chama da salesianidade. Obrigado por tudo Porto Velho valeu pela experiência e pelo aprendizado. Conto com as orações deste povo e dos amigos que aqui deixo. Abraço PVH!

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Às vésperas do Natal


Este ano o Natal vai ser diferente, após 5 anos vou celebrá-lo no Brasil, só o fato de estar em solo brasileiro isto me deixa muito feliz. Celebrar no velho continente sempre batia a solidão e uma vaga memória de um momento tão especial na fria terra européia. Aqui respirando o nosso clima, em contato com nosso povo tudo tem um ar diferente. A propósito deste momento especial, deixo aos seguidores uma bela mensagem escrita por um grande amigo que descobri em Roma Pe. Alfredo J. Gonçalves sacerdote jesuíta que agora mora no Rio de Janeiro, creio que são muito válidas suas palavras em tempos de forte consumismo e vazio sentido celebrativo do Natal. A foto ao lado registrou a iluminação da catedral de Porto Velho. Vale a pena refletir:

“O que fostes ver no deserto, um caniço agitado pelo vento?” (Lc 724b)

A metáfora do “caniço agitado pelo vento” se presta como uma luva para os dias que correm. De fato, um simples olhar às ruas, praças e corredores dos shoppings centers é suficiente notar como parecemos “caniços” agitados pelos ventos do marketing, da propaganda e da publicidade.
Um exemplo apenas um: lançado novo produto, shampoo dois em um, que “acaba com a caspa e, ao mesmo tempo, hidrata os cabelos”. Apelo comercial: “você não pode viver sem ele!”. A insistência no apelo e a obsessão em apregoar as qualidades do produto revelam exatamente o contrário: você pode, sim, viver sem ele! A ânsia mercadológica mascara a mensagem, fala pelas entrelinhas, nega-se a si mesma. A propaganda estridente sinaliza para o vazio e a inutilidade do objeto. Por outro lado, o apelo dirige-se ao desejo de posse daquilo que está exposto na vitrine, envernizado por luzes e enfeites. Desejável, porque simultaneamente próximo e distante. Mas o desejo de posse se desfaz no exato momento da compra. Esta, ao tornar seu o que parecia um sonho impossível, dilui automaticamente o desejo. A magia derrete-se com a própria aquisição. Mas faz nascer outros impulsos ou paixões, e assim por diante...
O mercado nutre-se dessa fome e dessa sede insaciáveis de comprar, ter, exibir, aparentar, inovar, competir. Fome e sede de novidades que, constantemente, morrem com a posse e renasce com novos desejos frente a produtos inéditos, ou simplesmente reciclados. Basta uma mudança no rótulo, na cor, no formato, nos ingredientes ou na embalagem, para que o velho se torne novo. Instala-se o círculo fechado e vicioso do “produzir e consumir”, no ritmo da matemática, tão veloz e alucinado que não deixa lugar nem tempo à reflexão. O anseio da compra substitui a pergunta pela necessidade. Com razão, Marx referia-se ao “fetiche da mercadoria”.
Numa outra metáfora, a cidade às vésperas dos festejos natalinos, mais parece um imenso espetáculo de marionetes controlado pela gigantesca “mão invisível” do sistema capitalista, para usar a expressão de Adam Smith. Nesse palco de milhões de atores/consumidores embriagados, a poderosa mão transforma seus dedos em tentáculos que chegam aos quatro cantos do planeta, ou às mais íntimas dimensões do ser humano, tais como as relações de afeto, de família, de amizade... Penetra até no sacrário do que existe de mais sagrado.
A cidade vira um formigueiro humano, para terminar com uma terceira metáfora. Torrentes de pessoas se movem nos centros comerciais, num vaivém permanente, deslocamento centrípeto e centrífugo, onde não faltam gritos, promoções, cifrões, pechinchas, pacotes, empurrões... Mas, em meio a tudo isso, a alegria inebriante de diluir-se nessa multidão viva e ansiosa por novidades. Evidente que o cidadão tem o direito de adquirir aquilo para o que tanto trabalhou e com o que tanto sonhou. O conforto não pode ser privilégio de poucos. Graças a Deus, muitos brasileiros hoje podem ter acesso a produtos que antes estavam longe de seu bolso. Mas fica o alerta contra a embriaguez que nos torna “caniços, marionetes”, uma espécie de seres com opinião invertebrada, que o poder do marketing facilmente manipula e explora. Vale, pois, a advertência de Jesus narrada pelo evangelista Lucas. “O que fostes ver no deserto?”